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O azeite da coroação do Rei Charles

Sempre foi trabalhoso você provar que é melhor que os outros e que, portanto, pode ser rei e mandar em todo mundo. É necessário algum poder militar, uma boa quantidade de ouro, algumas cabeças de inimigos decepadas e, principalmente, uma justificativa para origem divina do seu poder. Desde a Antiguidade até 06 de maio de 2023, quando acontece a coroação do Rei Charles III, na Inglaterra, uma das formas de mostrar a conexão com forças divinas é a unção com azeite. Podia ser pasta de figo, água do Mar Morto, vinho. Afinal, símbolos são sempre arbitrários. Mas por que especificamente azeite?

File:Coronation Henry4 England 01.jpg

Coroação de Henrique IV, circa 1.470 (Jean Froissart)

A origem do ritual

Na abertura da edição 22/23 do Extrafresco: o Guia de Azeites do Brasil, eu comento sobre algumas árvores ligadas à história da humanidade. A casca do salgueiro foi usado por séculos como remédio. Os pinheiros, por causa da sua resina, foram usados como fonte de luz. A figueira é uma das frutas consumidas há mais tempo. Mas apenas uma árvore proporcionou, ao mesmo tempo, remédio, luz e alimento: a oliveira.

Com todos esses atributos e ainda mais a natureza de ser uma árvore centenária, é fácil entender o valor dado à oliveira e à sua transformação em símbolo de prosperidade e paz – coisas que nos conectam com o divino. Um dos exemplos mais antigos registrados da unção de um rei com azeite de oliva vem da Bíblia, onde o profeta Samuel unge Saul como o primeiro rei de Israel. Este ato foi visto como uma confirmação divina do status de Saul como rei e estabeleceu um precedente para futuros reis de Israel serem ungidos com óleo. No Novo Testamento, Jesus também é dito ter sido ungido com óleo por uma mulher em uma cerimônia que foi vista como um sinal de seu status divino. “Messias”, aliás, é uma palavra hebraica que significa “ungido”.

A unção dos reis ingleses

O uso do azeite na unção de reis continuou ao longo da Idade Média na Europa, sempre visto como uma forma de conferir o direito divino de governar. Na Inglaterra, a unção do monarca com óleo remonta à coroação do Rei Edgar em 973 d.C. Mais tarde, no século XIV, um monge entregou ao futuro Rei Eduardo II um frasco de azeite que teria sido recebido por São Tomás Becket diretamente das mãos da Virgem Maria. O rei ficou na dúvida entre ser ungido com o óleo tradicional dos antepassados ou esse, que continha a profecia de que o rei o que usasse reconquistaria a Terra Santa. Acabou optando pela tradição (ah, esses ingleses) e depois passou o resto da vida arrependido. Chegou a tentar ser ungido novamente com o tal azeite da Virgem. O Papa mandou um recado para ele dizendo que se ele quisesse ter prosperidade, deveria é comportar-se de acordo com as leis de Deus e não ficar preocupado com a origem do azeite.

A origem do azeite usado na coroação do Rei Carlos III

O azeite que será usado na coroação acrescenta um simbolismo a mais a história. Ele foi extraído de dois olivais em Jerusalém, localizados no Monastério da Ascensão e no Monastério de Maria Magdalena. É nesse último que está enterrada a princesa grega Alice, avó paterna do Charles. O azeite foi extraído em Belém, cidade de nascimento de Jesus (mais um símbolo) e consagrado em Jerusalém (é possível ver parte da cerimônia de consagração do azeite nessa matéria no Youtube).

Além do azeite, a cena da coroação vai ser composta por um bordado executado por artesão da Escola Real de Bordados (da qual Camila, a rainha consorte, acaba de virar patrona). O bordado de aproximadamente 2 x 2 metros contém a imagem de uma oliveira com 56 folhas representando cada um dos estados membros do Commonwealth.

The Anointing ScreenFonte: https://www.royal.uk/news-and-activity/2023-04-29/the-anointing-screen

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Saturado

Às 05:15 da manhã, o enfermeiro veio retirar meu cateter intravenoso, um tubo fino de trinta centímetros, instalado na dobra interna do braço e que segue por dentro da veia, até o coração. Em casos de longa internação, ele evita que o paciente seja picado várias vezes ao dia ao receber medicamentos e coletar exames. É o último passo para receber alta, após dezessete dias internado em tratamento de COVID.

Antes disso, tinha passado um ano e meio me cuidando da maneira mais responsável possível, com a sorte de poder trabalhar de casa em tempo integral. Deixei de receber amigos, para quem tanto gosto de cozinhar. Cheguei a me indispor com a família num momento em que queriam me visitar e eu disse que só receberia visitas vacinadas.

E então, eu saturei de tanto isolamento. Uma semana antes da data prevista para minha vacinação, resolvi visitar um amigo. Ele, sem saber, já estava contaminado. Voltei para São Paulo, testei positivo e vim parar na UTI.

Na UTI, você luta para controlar a inflamação e recuperar a saturação de oxigênio. O barulho dos monitores bipando é constante. O zumbido do oxigênio passando pela máscara lembra uma longa noite insone em vôo internacional quando as horas não passam e você fica esperando o café da manhã. Quando finalmente adormece, chega a equipe de raio-x e coloca uma placa gelada nas suas costas. E novamente a equipe de enfermagem e fisioterapia para checar seus sinais. A equipe de limpeza, quase invisível mas barulhenta. E a equipe de nutrição que verifica se você quer purê ou purê.

Prostrado, porém consciente, ocupava meu tempo fazendo diagramas mentais desenhando um percurso desde esta parte visível da equipe até os anônimos que fazem tudo funcionar. Para que o remédio e o purê cheguem na hora certa, alguém está numa sala sem janelas preenchendo formulários e fazendo cotações. Comprando de seringa à mandioquinha. Estimando quantos milhares de aventais, descartados minuto a minuto, serão usados no dia. No laboratório, uma equipe processa os exames colhidos de madrugada para que os médicos possam acompanhar a evolução do paciente logo pela manhã. Dar conforto e salvar vidas é uma operação complexa de processos, máquinas e gente.

Desconfiei que ia ser entubado quando, de repente, não veio meu purê. Tinha sido colocado em jejum preparatório. No final, não foi necessário realizar o procedimento. Vi nos olhos da equipe o orgulho de ter revertido a situação. Orgulho de salvar uma vida – que valor tem isso?

Entendi melhor, então, algo que vem me saturando há um tempo: a atenção e valor desmedidos, irracionais e irresponsáveis que se atribuem a celebridades fazendo dancinhas em redes sociais, se chacoalhando por alguns trocados e recebidos.

Antes de mais nada, preciso dizer que também tenho meus momentos fúteis. A vida precisa de respiro. Não passo 24 horas estudando física quântica ou treinando abrir massa de strudel. Como miojo e assisto a séries inúteis. Mas não espero ser reconhecido nem valorizado por isso.

Reconhecimento merece alguém que, às 4 da manhã, se aproxima sorrindo de um paciente de mau hálito, recolhe sua urina, sem antes deixar de anotar a quantidade de mililitros. Alguém que dá banho em um desconhecido e diz uma palavra de encorajamento (“nós vamos cuidar do senhor, viu?”). Que comemora sua saída da UTI como se você fosse da família. Gente que, no céu, vai ter um canto especial com massagem, espumante e pão com azeite da melhor qualidade. Mas que aqui neste planeta não está valorizada o suficiente. Porque, de repente, naquilo que só pode ser um surto coletivo, decidimos colocar no centro do palco um bando de picaretas digitais.

Após a retirada do meu cateter, arrumei minha mochila. Acompanhei o nascer do sol no vale do Pacaembu, com a vista que tenho do oitavo andar do Instituto do Coração. Fiz uma oração de agradecimento por todos. E não espero que ninguém curta o que escrevi. Estou saturado de influencers e me ofendo se você me chamar disso.

Não tive alterações no olfato nem no paladar, o que era um grande medo. Fiquei internado no Instituto do Coração em SP, cuidado por uma equipe competente, carinhosa e sorridente. Deixo a todos minha gratidão e reconhecimento.

Equipe da nutrição que atrasou meu almoço duas vezes e quase me matou de fome: eu perdoo, sei que estão todos muito ocupados. E desculpem-me por devolver aquilo que se passa por molho italiano em um sachê de plástico. Eu trouxe escondido na mochila um monte de vidrinhos de azeite. Minha vida ficou por um fio mas não abri mão do meu rio de azeite.

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Máscara de azeite, o segredo da pele bonita

“Tudo o que eu sou devo às massas”, disse Sophia Loren uma certa vez.  Mas essa pele, na era pre-Photoshop, tinha outra explicação, além da genética. O uso de azeite como cosmético é sabedoria ancestral, muito antes que a ciência identificasse a presença do hidroxitirossol, um polifenol com ação anti-oxidante. Dizem que a Cleópatra usava no corpo todo. E que Sophia Loren, por via das dúvidas, usava na salada, no rosto e no banho.

A receita a seguir é do livro “The Passionate Olive: 101 Things to Do with Olive Oil”, da Carol Firenze, que a aprendeu de sua professora de culinária na Toscana. Aproveite que de janeiro a maio é tempo de abacate, fruta que fica ótima com pão tostado, azeite, sal e limão. Mas como é muito calórica, você pode aproveitar parte dela para fazer uma máscara facial.

Máscara facial com azeite

Amasse ½ xícara de azeite extravirgem com uma xícara de abacate. Quando a mistura estiver homogênea, aplique no rosto e deixe por 12 minutos. A promessa da Carol é a de uma pele brilhante.

Carol Firenze promete que a pele fica iluminada. Aproveite a quarentena para deixar a pele mais bonita. E se tiver que sair de casa, use máscara.

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Onde encontrar os azeites brasileiros premiados em NY

 

Foram quase 1.000 azeites de 26 países avaliados em 5 dias. O júri do NYIOCC vem de 13 países diferentes, o que garante equidade na avaliação sensorial. Foi uma honra representar o Brasil junto a um time que é a elite dos degustadores de azeite no mundo. E justamente no ano em que o Brasil teve o seu melhor resultado, com 11 prêmios, quase o dobro do ano passado.

Veja a seguir os azeites que ganharam medalhas em 2019. Quer conhecer outros azeites brasileiros? É só consultar o Guia de Azeites do Brasil.

Prosperato

Muito antes de produzir azeite, a Tecnoplanta, que é a maior produtora de mudas de eucalipto do mundo, já produzia mudas de oliveira. A empresa implantou os primeiros olivais em 2005, buscando uma diversificação dos negócios e, ao prensar as primeiras azeitonas, apaixonou-se pelo produto. À frente do lagar está Rafael Marchetti, jovem de uma geração que, no mundo inteiro, tem se voltado para a produção de alimentos de qualidade. Essa paixão se traduziu em um azeite que recebeu, apenas em 2018, mais de 15 prêmios internacionais. No Empório Prosperato, que fica junto ao lagar, no km 328 da BR 290, é possível encontrar os azeites e também outros produtos da região.

Resultado no NYIOOC 2019

Medalha de ouro e Best in Class pelo Prosperato Premium Blend (Blend Médio)

É o segundo azeite brasileiro que conquista a principal medalha do New York International Olive Oil Competition, o Best In Class pelo seu blend.

Onde encontrar:

https://emporio.prosperato.com.br/ 

Costa Doce

Costa Doce é mais um dos azeites brasileiros que vem discretamente chamando a atenção nos prêmios internacionais. Em 2018 a marca conquistou medalha de ouro no Terraolivo em Israel, com o blend médio e o Gran Prestígio de Ouro com o blend intenso, no mesmo concurso, além de outros prêmios na Itália. O olival começou a ser implantado em 2013, numa propriedade que já conta com outras culturas, e o lagar começou a funcionar este ano, garantindo maior rapidez no processamento das azeitonas. O proprietário é descendente de família italiana e reuniu o espírito empreendedor com o gosto pelo azeite e a disponibilidade de terras com clima adequado para o cultivo.

Resultado no NYIOOC 2019

Medalha de Ouro Monovarietal Médio pelo Costa Doce Premium Koroneiki

Medalha de Ouro Blend Médio pelo Costa Doce Médio

Medalha de Prata Blend Médio pelo Costa Doce Intenso

Onde encontrar:

https://www.olivascostadoce.com.br/ondecomprar

Olivas do Sul

A família Aued é uma das pioneiras na produção de azeite no Rio Grande do Sul, com pomares implantados desde 2006 e uma ampla experiência acumulada no cultivo, extração e também na produção de mudas de oliveira. Seu olival inclui variedades únicas, como as italianas moraiolo e leccino e a grega kalamata, própria para a produção de azeitonas de mesa. O pomar de Encruzilhada do Sul ganhou o prêmio de Pomar Modelo, da Assembleia Legislativa do RS e, desde 2016, está sendo feita a implantação de um novo pomar na promissora região de Encruzilhada, onde o lagar contará com infra-estrutura para receber turistas. A região conta com uma bela geografia, águas cristalinas e uma diversidade de fauna e flora.

Resultado no NYIOOC 2019

Medalha de Prata Blend Médio pelo Olivas do Sul Blend Riserva D’Oro

Onde encontrar:

http://www.olivasdosul.com.br/loja-online/2/azeites

Verde Louro

A Fazenda Mato Grande está entre as maiores produtoras de azeite no Brasil, com um pomar que inclui as variedades arbequina, arbosana, frantoio, koroneiki, picual e manzanilla. Possui um lagar próprio, que pode ser visitado com o acompanhamento de um agrônomo que explica sobre o cultivo a extração do azeite. Além da qualidade do azeite, o Verde Louro destaca-se pelas elegantes garrafas importadas da França.

Resultado no NYIOOC 2019

Medalha de Ouro Monovarietal Delicado pelo Verde Louro Arbequina

Medalha de Ouro Monovarietal Médio pelo Verde Louro Koroneiki

Medalha de Ouro Monovarietal Médio pelo Verde Louro Arbosana

Onde encontrar

https://loja.verdelouroazeites.com.br/

Casa Mantiva

Um velho ditado diz que o olho do dono é que engorda o gado. Os proprietários da Casa Mantiva, decidiram, além de produzir leite, cultivar oliveiras, mas com uma regra: todo o processo deveria ser acompanhando diretamente por eles mesmos, garantindo a qualidade do plantio até a extração do azeite.

A fazenda possui 10 nascentes e 30% da mata nativa e o projeto de olivicultura, que acompanha a produção de queijo e de lúpulo foi implantado para atender ao desejo de exercer uma atividade que integrasse benefícios ambientais, econômicos e sociais. O lagar fica junto ao olival, que conta com 8.000 árvores das variedades arbequina, arbosana, grappolo, koroneiki e maria da fé.

Resultado no NYIOOC 2019

Medalha de Ouro Blend Médio pelo Reserva Mantiva

Onde encontrar:

https://www.facebook.com/pg/casamantiva/about/

Irarema

Mesmo que não produzisse azeites premiados, a Fazenda Irarema já seria um destino de visita obrigatório. A casa da sede, construída no final do século XIX, ainda é a residência dos proprietários que, em 2015 e converteram as plantações de café em olivais. Uma foto do século passado mostra Santos Dumont na varanda de casa (que ainda está intacta). Moacir Carvalho Dias é um olivicultor dedicado e está sempre presente para receber os visitantes, contar a história da fazenda e conduzir os passeios e a degustação. É um mestre lagareiro habilidoso que, na sua primeira extração de azeite em 2018, já conquistou o prêmio Best In Class para blends suaves no New York Olive Oil Contest. A fazenda também extrai óleos essenciais, destinados para aromatização de azeites e para a fabricação de sabonetes e cosméticos. Reserve um tempo para curtir o belíssimo café, onde também são vendidas especialidades da região.

Resultado no NYIOOC 2019

Medalha de Ouro Blend Médio pelo Irarema

O Irarema foi o primeiro azeite a conquistar um Best in Class em NY, em 2018.

Onde encontrar:

https://www.facebook.com/fazendairarema/

Para conhecer todos os azeites premiados, visite o https://bestoliveoils.com/

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Cinco livros para saber mais sobre azeite

Extravirgindade: o sublime e escandaloso mundo do azeite de oliva

Escrito pelo jornalista norte-americano Tom Mueller em 2011, o livro aborda o lado obscuro do mundo do azeite, um alimento que está na lista dos dez mais falsificados no mundo. Mas é, acima de tudo, um relato de um apaixonado pelo azeite.

 

Azeitonas: vida e saga de um nobre fruto

O livro é de 1996 e o autor, Mort Rosenblum, percorre o mundo conhecendo olivicultores e conhecendo antigas tradições, além de tentar ele mesmo produzir azeite em uma pequena propriedade da Provence, na França. A edição brasileira contém alguns erros de tradução.

 

Il Mondo dell’olio: storia, produzione, uso in cucina dell’extravergine

Publicado pelo Slow Food em 2017, é um livro voltado para a produção italiana. A edição é bem cuidada e o texto abrange do cultivo ao consumo. Ainda sem tradução em português.

 

O azeite na cultura e no património alimentar

A obra de Manuel Paquete é de 2013 e aborda o cultivo  em Portugal. Aprendi muito com esse livro, que apresenta muitas tradições e receitas antigas ligadas ao consumo do azeite.

 

O Guia de Azeites do Brasil

Já temos azeites brasileiros há alguns anos, mas toda semana (literalmente) encontro alguém que se surpreende quando eu conto que escrevi um guia dos azeites produzidos por aqui. O guia pode ser comprado direto no site da Editora Livrobits.

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Obcecado por azeite, o documentário

Estreia dia 24 no festival de cinema Arcosanti o documentário de Fil Buchino sobre novas tendências na produção de azeite. Gravei minha participação na região da Mantiqueira.

O trailer de “Obsessed with Olive Oil” pode ser visto no Vimeo.

Em breve volto com mais informações sobre a estreia no Brasil.

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O que aprendi como jurado de prêmios de gastronomia

Colaborei como jurado na seção de Quitutes da edição especial O Melhor de São Paulo, publicada pela Folha de São Paulo nesse domingo. Com meus votos para esta edição, completo um ciclo como jurado nos principais veículos de imprensa da cidade de São Paulo, com participações no caderno Paladar do Estadão, Veja São Paulo Comer e Beber e O Melhor de SP da Revista Época.

Em 2008, o caderno Paladar do Estadão desafiou os leitores a escrever a resenha de um prato em apenas dez linhas.  Eu deixei para a última hora, estava de partida para a Itália, e arrisquei escrever sobre a refeição do avião. Direto do aeroporto, em uma péssima conexão de internet, enviei meu texto para o jornal. Alguns dias depois, recebo um ligação do Luiz Américo Camargo, então crítico gastronômico e editor do caderno, me convidando para participar no prêmio.

Foi uma importante experiência de estreia: aprender a estudar sobre os pratos antes de ir ao restaurante. Aprender a sintetizar em um texto curto o que é mais importante para o leitor. E, principalmente, aprender com o Luiz Américo sobre o respeito aos profissionais de cozinha por trás do pratos avaliados. Crítica não existe para detonar, existe para guiar o leitor, mostrar tendências e chamar a atenção do chef e do restaurateur para pontos que podem ser melhorados.

Dois anos depois, Arnaldo Lorençato, o experiente editor da Veja Comer e Beber, me chamou para participar como jurado do prêmio da “Vejinha” – que de “Vejinha” não tem nada, porque exige a avaliação de quase 20 categorias diferentes de restaurantes. Para cada uma delas o jurado visita anonimamente pelo menos 3 casas para escolher a que considera a melhor expoente da categoria. Isso significa quase 60 dias jantando fora de casa. É uma experiência incomparável para avaliar de uma só vez comida, serviço, tendências e modismos. Em momentos de dúvida, o Arnaldo, sempre gentil, estava à disposição. Lembro de um dia em que eu liguei para ele: “Arnaldo, a comida é ótima, mas despejaram um quilo de sal na salada, o que eu faço?” O restaurante em questão era a Trattoria Tapo e, baseado numa série de visitas anteriores que tinham sido excelentes, votei na casa como melhor italiano, apesar do deslize no tempero.

Com a edição de Camila Hessel, participei do Melhores de SP da revista Época, de onde trago duas lembranças: a felicidade de ser jurado da categoria Comida Brasileira, e poder fazer uma avaliação de excelentes restaurantes, como Tordesilhas, Esquina Mocotó e Jiquitaia (que levou o prêmio naquela edição). E a felicidade de ser jurado da categoria Sorvetes, que me obrigou a visitar em apenas uma semana todas a sorveterias e paleterias da cidade. Os mais próximos sabem que eu perco o controle diante de um pote de sorvete.

Todos essa experiência foi fundamental quando decidi, em dezembro de 2016, escrever o primeiro Guia de Azeites do Brasil.  Ao escrever sobre cada azeite, incorporei o respeito que aprendi no prêmio Paladar assim como o fôlego e o método que aprendi com o Arnaldo na Veja (aliás, recorri tanto ao Américo, que prefaciou o Guia 2017, como ao Arnaldo, sempre gentil, em momentos de dúvidas que tive durante a redação do Guia).  Também aprendi a lidar com a dificuldade das escolhas e até mesmo com as vaidades de um ou outro produtor, que mesmo resenhado de maneira positiva, esperava uma valorização maior. Nessas horas recorri ao chef filósofo Raphael Despirite, do restaurante Marcel, que disse uma vez: “Prêmio é simples assim: quem ganha comemora, quem fica de fora reclama”.

Prêmios e guias não são definitivos, assim como o mapa não é a estrada. São apenas uma referência para que o leitor encontre, aprecie seu caminho e tire suas própria conclusões. É isso que eu espero como resultado para O Guia de Azeites do Brasil – safra 2018, que está em revisão e tem o lançamento previsto para setembro.

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Copa&Cozinha Argentina: Carbonada

Já comentei na receita das humitas queimadas que o consumo de azeite é baixo na Argentina, o que é curioso dada a grande presença de imigrantes italianos. A receita de hoje, celebrando a sofrida chegada da Argentina às oitavas de final da Copa da Rússia, é uma carbonada, prato encontrado em todo o sul do continente americano, com pequenas variações. Eu pesquisei várias receitas e gostei de uma delas em que o cozinheiro dá a dica de colocar meia xícara de leite e azeite dentro da abóbora.

Carbonada

Ingredientes

Uma abóbora

Espigas de milho cortadas em quatro

Batata (pode ser a comum, a batata doce ou uma mistura das duas)

Pimentão vermelho picadinho

Carne (acém, coxão duro)

Cenoura

Extrato de tomate

(E a quantidade? Poxa, depende do tamanho da abóbora e de quanta carne você quer. Eu usei uns 600 gramas de acém em cubos grandes, umas duas batatas, uma cenoura, um pimentão).

Modo de fazer

Você abre uma tampa na abóbora, retira os fiapos e as sementes, coloca 1/4 de xícara de leite, umas duas colheres de azeite, sal e pimenta. Embrulha a abóbora em papel alumínio e vai assistir ao jogo, porque demora uns 90 minutos para a polpa ficar macia. Nessa foto, eu usei um truque: besuntei a abóbora com azeite por fora e e, em vez de usar papel alumínio, coloquei uma tigela de inox emborcada por cima da abóbora.

Numa panela, você refoga no azeite alho e cebola, doura a carne, acrescenta louro (esqueci de mencionar o louro nos ingredientes — é que ele estava no banco de reserva), o extrato de tomate e o milho e cozinha uns 40 minutos. Depois acrescenta as batatas e as cenouras. Quando estiver no ponto, você coloca dentro da abóbora, acrescenta salsinha e cebolinha e serve — com azeite para finalizar. Neste prato que é substancioso, pode usar um azeite de bastante intensidade e picância (eu usei um picual).

Quem faz o Copa&Cozinha

A série de receitas Copa&Cozinha conta com o apoio de pesquisa da minha turma de alunos de pós-graduação em Gastronomia: História e Cultura no SENAC – SP

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Cinco razões para comprar azeite brasileiro agora

Esta semana mostrei no Instagram do @umlitrodeazeite novos azeites brasileiros. Alguns são apenas amostras da primeira safra e ainda não estão disponíveis comercialmente, como o Capolivo e o Casa Albornoz. Outros, como o Azeite Sabiá, são a primeira extração do produtor. E alguns são marcas consolidadas, como o Olivas do Sul, cujo produtor é um dos pioneiros no RS e, com sua experiência, ajuda outros a implantarem seus olivais. E também há azeites premiados, como o Costa Doce e o Batalha.

Esses azeites, assim como os mineiros Terra Sem Mal, Serra que Chora e Serra dos Garcia são uma amostra da safra brasileira 2018. Veja abaixo cinco motivos por que é uma boa ideia comprar esses azeites e outros azeites nacionais. E seu jantar com os amigos nunca mais será o mesmo.

O aroma e o sabor são mais intensos

A principal característica do azeite é o frutado, um aroma herbáceo que ao longo do tempo vai se perdendo. Azeite é o contrário do vinho – quando mais jovem, melhor. Como a colheita de azeitonas no Brasil é feita entre fevereiro e março, os azeites estão agora no auge de seu aroma.

Os benefícios para a saúde são maiores

Experimente uma colherinha de azeite novo e sinta o ardor que ele provoca na sua garganta: isso é sinal da presença da presença de biofenois. São esses elementos que tem efeito benéfico para a saúde. Mas eles também se degradam com o tempo.

O risco de problemas com transporte e armazenamento é menor

Um dos elos fracos da cadeia do azeite, em qualquer lugar do mundo, é o transporte e armazenamento. Calor e exposição ao sol interferem na qualidade do óleo (esse, aliás, é um dos motivos de os azeites serem vendidos em garrafas escuras). Comprando azeites agora você minimiza o risco.

O mercado cresce e o azeite fica mais acessível

O azeite brasileiro não é barato. Isso não significa que ele é caro. O valor que você paga é o valor trabalho investido ao longo de todo o ano na manutenção de um pomar saudável. Quanto mais gente consumir azeite nacional, mais a escala de produção aumenta e os custos do produto final barateiam.

Seu paladar se aperfeiçoa

Depois de experimentar um azeite fresco, sua percepção deste óleo vai mudar muito e você não vai engolir mais qualquer coisa. De mero coadjuvante na salada, você vai acabar descobrindo outras possibilidades de uso.

A maioria dos produtores vende direto ao consumidor. Em São Paulo, a loja especializada Rua do Alecrim  e a Casa Santa Luzia possuem uma boa oferta de azeites nacionais. No sul do Brasil, há muitos azeites no Mercado Central de Porto Alegre e uma excelente loja em Gramado, o Empório do Azeite. Em Brasília, o Cantinho do Azeite tem loja física e também vende online.

E para entender mais sobre este assunto, inscreva-se no workshop de degustação Bebendo Azeitonas #semfalargrego, na Casa do Saber, dia 13 de agosto às 20:00. Te espero por lá!

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Bebendo azeitonas em São Lourenço – MG

Você vai descobrir o que é um bom azeite, experimentar azeites extravirgens produzidos no estado de Minas Gerais e ainda aprender a combinar azeites e queijos.

E de quebra, ainda ganha o recém-lançado Guia de Azeites do Brasil 2017.

A inscrição inclui:

  • Acesso ao Parque das Águas
  • Aula e degustação de azeites
  • Exemplar autografado de O Guia de Azeites do Brasil 2017

Dia 17 às 11:30.

Valor: R$ 62,00

Para inscrever-se na sessão do dia 17, clique no botão abaixo